As considerações que fazemos, neste post, têm base na psicologia profunda de C. G. Jung. Portanto, consideraremos, para efeito de entendimento, a palavra "legalismo" (para nós, cristão, excesso da lei mosaica), como diferente de "moral" (entendida, para todas as pessoas, como aplicação de princípios éticos-morais, adotados por uma sociedade).
Quero dizer, com isso, que "legalismo" e "moral" não vêm a ser uma só e mesma coisa, também dentro da cultura cristã evangélica.
O Engano Que Os Cristãos Cometem
Iniciando nossa argumentação, devemos deixar claro que o engano e a confusão que nós, cristão, muitas vezes, impensadamente, cometemos, é imaginar que a moral foi dada a nós e a todos os homens, pelas tábuas da lei, que Moisés trouxe do Monte Sinai.
Aquelas tábuas da lei e os mandamentos nela contidos, foram dados ao povo hebreu, à nação israelita, ao povo eleito de Deus, como um sinal visível, no deserto, em primeira mão.
Nós os recebemos depois, na forma do ensinamento dos dez mandamentos que, evidentemente, valem sim, para nós, assim como valem para os judeus.
Onde Reside o Engano, Então?
O engano está em confundir a Lei com o sentimento moral, comum a todo ser humano.
Paulo disse que não conheceríamos o pecado, se não houvesse a Lei e isso é verdadeiro.
No entanto, apesar de a Lei ser a Lei de Deus, explicitamente manifestada através dos dez mandamentos, existe um sentimento moral que já nasce com todos os homens e faz parte de sua psiquê.
A psicologia, a sociologia e a antropologia confirmam que todos os povos, de todas as culturas e de todas as religiões (até aquelas das mais primitivas civilizações, nas mais remotas ilhas) nascem com um sentimento moral, manifestado sob a forma de um sentimento religioso, mesmo que o "deus" que veneram sejam um totem, um ídolo, o fogo, o sol, a lua ou as estrelas.
Esses povos nunca chegaram a conhecer o decálogo de Moisés e os que chegaram, tinham a sua religiosidade manifesta muito antes disso.
E Onde Reside o Perigo, Então?
O perigo reside no fato (de consequências nefastas, infelizmente) de que os cristãos exageradamente legalistas, ao privilegiarem o legalismo, recalcam para o inconsciente, todo o seu sentimento moral-religioso inato.
Quando isso acontece, toda a sua "fé" e todo o seu "discurso piedoso" passam a ser sustentados exclusivamente pelo legalismo exagerado, extremamente frágil (pois constitui apenas uma casca) para resistir às tentações.
Essa é a razão pela qual, tantas e tantas vezes, testemunhamos aquelas pessoas mais defensoras de uma "pretensa santidade", através do legalismo exagerado, caírem nos mais torpes e mais rasteiros pecados.
E as Consequências Acabam Aí?
Infelizmente, não, uma vez que, segundo Jung, o homem deve aprender a conviver e a aceitar o seu lado mais negro (que ele, em sua psicologia, chama de sombra.
Mesmo os cristãos mais sinceramente convertidos, continuam sendo pecadores e possuem, portanto, a sua sombra, com a qual devem aprender a conviver pacificamente.
Uma prova disso é que, quem quer que leia atentamente os ensinos paulinos, perceberá que o apóstolo Paulo nunca deixou de trazer dentro dele o velho Saulo de Tarso, mas houve uma harmonia entre os "dois", uma vez que, pela Graça, Paulo não negou, mas absorveu em sua personalidade, o antigo Saulo.
O que não acontece com os cristãos legalistas extremados. Estes, ao invés de integrarem o velho Adão – o seu lado sombra – preferem renegá-lo, recalcando-o para o inconsciente.
Os Resultados
O primeiro deles é aquela fragilidade moral, sobre a qual já falamos. O legalista acha-se "santo", vê-se como "piedoso", acusa e coloca na cadeira dos réus a seus irmãos, com a maior facilidade.
No entanto, o seu coração está repleto das fantasias mais imorais imagináveis, a sua mente está repleta das mais sórdidas perversões, os seus pensamentos, quase sempre, são de sensualidade e luxúria.
As condenações que fazem aos demais são projeções de suas próprias condenações, que não suportariam admitir.
A Lei dos Opostos
Em seguida, em algum momento de suas vidas, acontece a Lei dos Opostos, ou Lei dos Contrários, no dizer de Jung. De repente, de uma forma surpreendente, passam para o extremo oposto.
Um exemplo inocente é o caso de um pastor que conheci que, numa Copa do Mundo abominava o futebol e defendia a exclusão de todos os crentes que possuíam televisão.
Na Copa do Mundo seguinte, não apenas ele próprio adquiriu uma TV para assistir aos jogos, como orava para que o Brasil fosse campeão.
Exemplos Menos Inocentes
Os exemplos menos inocentes constituem aqueles em que, os conteúdos recalcados inconscientes, vêm à tona da consciência como que um vulcão.
Nesses casos, a pessoa mais "santa" passa a ser exageradamente liberal; as que vêem pecado em tudo passam a não enxergar pecado em mais nada.
É comum tornarem-se "liberais", permissivas e promíscuas. Em alguns casos, infelizmente, tornam-se literalmente apóstatas e defensoras do ateísmo mais pagão.
Conclusão
Lutar contra o pecado é o espinho na carne de todos nós. Essa é uma luta, por vezes inglória; todavia deve sempre estar respaldada na Graça, pois somente pela Graça é que podemos ser salvos, unicamente pelos méritos de Cristo.
Isto posto, é dever de todos nós, pedirmos em nossas orações, que o Senhor nos conceda discernimento para reconhecermos e evitarmos o legalismo que anula a Graça.
E que os pastores legalistas reconheçam que estão emocionalmente doentes. Orem e procurem ajuda para, como Paulo, ficarem em paz com seus "Saulos de Tarso" interiores.
Que possam ficar tão emocionalmente sadios de tal maneira que, ao invés de esbravejarem com o dedo em riste, sejam capazes de pregar, obedecendo o ensino paulino, em Gálatas 6.1:
"Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado".
Tony Ayres
Um comentário:
E aí amigo! Tudo na paz? Muito boa a postagem sobre o legalismo... Um abração!
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