Um dos estudos mais fascinantes da Psicanálise constitui, sem dúvida, os
chamados
"mecanismos de defesa". Todos nós possuímos mecanismos de defesa, que
utilizamos,
diariamente, para nos proteger de estímulos internos (provindos de nós mesmos)
ou de estímulos externos (provindos do meio externo ou de outras pessoas).
Na verdade, todo mecanismo de defesa é uma "tática" que o nosso inconsciente
utiliza para manipular alguma coisa que irá nos ofender, nos magoar ou nos ferir.
Utilizamos "inconscientemente" o mecanismos de defesa e saímos "ilesos" da
situação traumática.
Os mais conhecidos são:a negação, a regressão, a projeção e a sublimação,
entre outros.
Todos eles são utilizados com a mesma finalidade: Proteger o indivíduo contra
a ansiedade.
UM MECANISMO DE DEFESA ESPECIALMENTE IMPORTANTE
Desejamos, agora, abordar um mecanismo de defesa não muito conhecido
pelas pessoas em geral, mas que se reveste, devido à sua ação, de especial
importância.
Refererimo-nos à Formação Reativa.
Na Formação Reativa, protegemo-nos da ansiedade, manipulando uma
percepção interna, transformando, equivocadamente, um sentimento em seu
oposto. Com muita frequência, transformamos amor em agressão; ou agressão
em amor.
A HISTÓRIA DE BEETHOVEN
Uma história conhecida, que ilustra o que dissemos acima, é a do famoso
compositor Beethoven.
O episódio envolveu Karl, sobrinho de Beethoven, e a sua cunhada Johana,
mãe do Karl.
O compositor desenvolveu um ódio extremamente irracional por Johana e uma
firme convicção
de que era o seu dever resgatar Karl de sua influência.
Hoje se cogita, com convincente razão de que, na verdade, o ódio de Beethoven
camuflava uma intensa atração passional que ele nutria por Johana. Beethoven
utilizou-se, para se proteger, de uma Formação Reativa.
É IMPORTANTE SABER ISSO?
Obviamente, é muito importante conhecer o funcionamento desse mecanismo de
defesa para
entendermos, muitas vezes, o que está subjacente àquilo que ouvimos, vimos
ou presenciamos.
Vamos a alguns exemplos, que podem estar presentes em nossa vida cotidiana.
Se o pastor de determinada igreja faz um sermão no qual condena a
sensualidade e a pornografia, ele está
fazendo aquilo que é inerente à sua função de cuidar de seu rebanho.
Mas, se esse mesmo pastor demonstra obssessão por pregar sempre contra a
sensualidade ea pornografia, muito provavelmente ele é que está sendo alvo
dessas tentações e deve estar seduzido por elas.
Um outro exemplo: aquele televangelista que está continuamente apontando na
TV os "críticos de mau caráter" pode, simplesmente, estar demonstrando que o "crítico mau caráter" é ele
mesmo.
Vemos, pelo que aqui foi exposto que o nosso cérebro e a nossa mente são
como uma faca de dois gumes. Eles, com toda certeza, nos protegem.
Mas podem, também, nos delatar.
Tony Ayres
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