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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O “DAR FRUTO” COMO ANGUSTIA E NEUROSE DO FAZER


Impressiona-me muito ver o estado de culpa latente que habita as pessoas no mundo evangélico. Além disso, também muito me admira como as pessoas ficaram viciadas num fazer auto-justificador diante de Deus.

As pessoas estão tão acostumadas a se sentirem em dívida, que quando se lhes diz que está tudo pago, elas não sabem como se comportar.

Mas e agora?—perguntam—Como fica? O que tenho de fazer?

Não podem simplesmente aceitar que o alvo da fé é a construção de um ser humano, neles mesmos, conforme a imagem do Filho de Deus. E que não fomos chamados para construir templos, mas para sermos templo.

Se não se diz a eles para “fazerem” alguma coisa, dá-lhes a sensação de não estarem dando “fruto”.

Dar fruto, para um evangélico, em geral, é participar das atividades da igreja, evangelizar e ganhar pessoas para a fé da igreja—e isto só se contabiliza como “ganho” quando a pessoa se integra na igreja—, ser ativo em departamentos da igreja, ser notado na igreja como alguém com quem se conta; e, também, ser capaz de gostar de tudo o que a igreja ensina, e um monte de outras coisas, todas relacionadas à igreja.

Ou seja: fora da igreja não há fruto para se dar. E quando falo de igreja, falo da organização eclesiástica física e funcional. Assim, para um evangélico, fora da igreja tanto não há salvação como também não há fruto.

A igreja é a “videira verdadeira” dos evangélicos, assim como também o é para toda a Cristandade.

Desse modo, sendo a videira uma organização e não um poder vital—uma seiva de vida—, o que aparece como evidência desse pertencimento, não é fruto, posto que entidades e instituições não dão fruto, mas sim apresentam resultados.

O fruto na “igreja-videira” é atividade e a funcionalidade.

O fruto, porém, na Videira Verdadeira, é apenas fruto. Ou seja: é aquilo que acontece de modo natural, e que é apenas o resultado de se estar ligado à fonte da vital, e de se ser uma extensão da própria Árvore da Vida. Um ramo!

Assim, nessa época de “Células-G 12”, de ativismo imenso, de hiper-ocupação dos crentes, e de cobrança de ativismo como devoção e obediência a Deus, realidades como amor, misericórdia, bondade, longanimidade, paz, mansidão, alegria e domínio próprio, passaram a ser besteiras e poesias sem importância.

O fruto da igreja é contabilizável. Já o fruto da Videira Verdadeira não é contabilizável, posto que ele não é medido em quantidades, mas apenas em qualidade.

Ora, quando você vem e diz para as pessoas que elas estão livres da tirania dos fazeres aflitos, e que agora podem ser—e sobretudo ser—, pois o que realiza o fruto não é o fazer, mas o ser; então, muitas vezes, dado ao vício e a heroína do heroísmo do muito fazer, do ativismo que por anos lhes foi inoculado como devoção executiva e produtiva—sempre de modo quantificável e para fora—, as pessoas se sentem sem chão, e entendem a coisa toda como um dês-construção.

Há presos, por incrível que pareça, que depois de anos de prisão já não sabem mais como existir em liberdade. Na realidade, há presos que não querem mais sair do presídio. Trocaram a liberdade pela segurança da cadeia, e pela certeza de amizades que não acabam, posto que os amigos estão encerrados na mesma prisão de segurança máxima.

Ora, vejo e ouço crentes reclamando da “prisão” o tempo todo, mas se se lhes abre os portões, e se lhes diz—Foi para a liberdade que Cristo vos libertou. Saiam!—; em geral alguns se alegram de imediato, mas quando postos na rua e ao ar livre, entram em pânico, e sentem saudades do cativeiro.

Os discípulos de Jesus precisam saber que “o fruto” é aquilo que acontece como produção natural da vida, começando no interior. Todas as demais atividades externas acontecem sob uma possibilidade: “sem amor, nada disso aproveitará”. No entanto, mesmo assim, a maioria prefere dar o corpo para ser queimado a fim de “provar alguma coisa” para si mesmos e para os outros, do que simplesmente ser, e expressar na vida os frutos do próprio ser, sempre crescendo nas produções do amor.

Na realidade, para quem o dar fruto equivale ao muito ocupar-se e ao muito fazer, o convite para ser, não significa nada para eles. Não lhes dá “provas comprobatórias” de nenhum frutificação.

Esquecem-se de que o chamado do Evangelho é a para a felicidade de ser, não de fazer. O “bem-aventurado, é...” E nele o fazer não é um esforço relacionado a um programa de atividades religiosas, mas tão somente aquilo que de modo natural brota da vida ligada à Videira, assim como um cacho de uva é o simples resultado de se estar ligado à arvora que tem aquele qualidade de natureza.

Enquanto não se entende isto, toda e qualquer tentativa de dar fruto apenas conforme ensina o Evangelho, acaba por se tornar—para os crentes neurótico pela obrigação de dar fruto como fazer—num processo de vazio e cheio de mal-estar e culpa, posto que o vício na justiça-própria que decorre dos muitos afazeres religiosos, é um dos vícios mais poderosos que podem se instalar no coração humano. Deixar tal vício leva tempo. Isto quando as pessoas conseguem.

Para quem tem dúvidas sobre o que digo, basta que se lembre o que Jesus disse a Marta acerca do assunto. Marta se agitava em muitos afazeres. Maria se quedava ouvindo a Palavra, aos pés de Jesus. Marta reclamava com Jesus acerca da passividade não produtiva de Maria. Jesus lhe respondeu que ela, Marta, andava muito preocupada e ocupada com muitas coisas. E concluiu: “Pouco é necessário; ou mesmo uma só coisa é necessária. Maria escolheu a boa parte; e esta não lhe será tirada”.

Mas para que se troque a construção de Pirâmides para fora, pela plantação de sementes de vida no coração, o indivíduo tem que confiar apenas num simples fato de que é a permanência confiante na Videira Verdadeira aquilo que natural gerará os frutos que agradam a Deus.



Caio

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