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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Autoridade para manipular crentes!

Postagem originalmente feita para o "Blog dos 30!"

Fiquei feliz em receber o convite para estar escrevendo ao blog dos 30. Com certeza este espaço será ótimo para a nossa reflexão profunda, pois o nível dos artigos estão excelentes. Espero contribuir de alguma forma também.

Hoje gostaria de abordar sobre um assunto que tem me causado inquietações constantes, tamanha gravidade dos fatos.

É notório que, atualmente vivemos em uma crise no meio eclesiástico Brasileiro. Muitas pessoas estão deixando de frequentar à igreja, desiludidas, feridas e desanimadas com o ambiente eclesiástico. Alguns podem afirmar o contrário, tendo em vista as últimas pesquisas que apontam um crescimento na população evangélica Brasileira, ou até mesmo por causa das diversas igrejas existentes em nosso país que possuem suas "super lotações" (MIR, Renascer, Sara Nossa Terra, IURD, igreja Mundial, Fonte da Vida, Luz para os Povos, etc.), porém não podemos esquecer que - no mínimo, na mesma proporção - ocorre também a saída de pessoas de tais igrejas por diversos motivos, tais como: decepções, abusos autoritários, manipulações, distorções bíblicas, ênfase no dinheiro, etc.

Tenho lido muitos artigos na internet que vem sendo divulgados sobre o tema, também existem diversos livros que estão sendo lançados pelo mundo com o objetivo de encontrar explicações para esta crise eclesiástica, tentando apontar algumas soluções para contornar a situação. Atualmente estou lendo o livro "Porque você não quer mais ir à igreja" - de Wayne Jacobsen e Dave Coleman - que trata exatamente sobre este tema.

Creio que é chegado o momento de abordarmos este assunto, com responsabilidade e temor, e começar a analisar alguns aspectos críticos e preocupantes desta problemática.

Em síntese, na minha opinião, o "ponto nefráugico" está exatamente na questão teológica. Os ensinamentos Bíblicos de muitas igrejas são superficiais, indutivos, interesseiros, fragmentados e místicos.

Superficiais, porque falta um preparo teológico hermeneuticamente correto, falta dedicação, falta zelo pela palavra de Deus e falta pregações expositivas, pois é repassado um ensino bíblico "enlatado" e fragmentado em detrimento de uma interpretação exegeticamente honesta e correta. Indutivos e interesseiros, porque visa exclusivamente os interesses particulares de seus líderes. Fragmentados e místicos, porque é pregado passagens fora de seus devidos contextos para que as mesmas sejam alegoricamente colocadas de uma forma mística.

Tudo isso, ao meu ver, se torna o ponto de partida para os "absurdos" que vemos hoje em dia.

Um desses "absurdos" que mais influenciam na saída de pessoas dessas denominações é exatamente o que vou colocar a seguir. Trata-se de um assunto delicado, pois toca diretamente na parte estrutural das denominações. Falarei sobre "autoridades eclesiásticas".

Para quem se afastou da igreja, ou para quem está congregando em alguma, quando escutam esta frase, logo vem em mente à figura da liderança principal da igreja, aquela pessoa eloquente e "ungida" que é supostamente "bem preparada" teologicamente, aquele que foi escolhido por Deus para ser o líder da igreja, a voz que decide tudo sobre a congregação, a palavra final e absoluta - a "cobertura espiritual" da igreja, a “autoridade eclesiástica” de todos os membros da mesma.

É impressionante e assustador a quantidade de casos que já presenciei de líderes que usam e abusam desta suposta "autoridade".

Um exemplo posso citar logo abaixo. Veja o que um conhecido Bispo de uma igreja neopentecostal colocou a respeito de sua "autoridade" perante os demais membros:

Quando você estuda a Bíblia percebe, entre outras coisas, a importância da cobertura espiritual sobre nossas vidas. Cobertura esta manifestada através da Igreja e de suas autoridades delegadas. A cobertura espiritual é o condutor do que a Igreja pode nos oferecer. Como a Igreja é o Corpo do nosso Senhor Jesus, tudo o que o Senhor Jesus pode fazer em nós e através de nós acontece quando estamos sujeitos à cobertura espiritual. [...] Foi Deus que instituiu a cobertura espiritual em nossas vidas, e segundo o Apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos, ela foi constituída para o nosso bem. Ela é importante para nossa vida, pois demarca limites em nossas vidas. [...] O nosso Deus é um pai bondoso e atencioso. Como bom Pai que é Ele estabelece limites para crescermos saudáveis e através da autoridade espiritual por Ele constituído é que somos edificados para este crescimento. Reconheça a cobertura espiritual de Deus para a sua vida. A cobertura da Igreja, pois com ela você poderá declarar que “nenhuma arma forjada contra você prosperará”, pois este é seu direito como membro coberto da Igreja de Jesus.

Autor: Bispo Fábio Sousa
Fonte: www.fontedavida.com.br



Vejam o quão oportunista é este discurso acima. Posso afirmar com conhecimento de causa - conheço bem esta denominação - que tal colocação é ensinada e repassada à todos os membros desta igreja, os pastores ensinam aos seus discípulos o mesmo conteúdo que aprenderam de sua "cobertura espiritual", e assim por diante. Para todos que começam a frequentar os cultos desta denominação, recebem tais ensinamentos.

A “autoridade” é colocada diretamente nos líderes da denominação, para que ninguém ouse a se levantar com alguma coisa dita, ensinada ou praticada por tais líderes. O famoso discurso de "não toqueis nos ungidos de Deus".

O primeiro argumento que podemos analisar é que, o ensino de cobertura espiritual carece de sustentação exegética.

Frank Viola, em seu livro "Quem é tua cobertura?", com muita propriedade disserta sobre o tema, veja abaixo:


- É surpreendente que a palavra “cobertura” apareça apenas uma vez em todo o NT. É usada referindo-se à cabeça coberta da mulher (1 Cor. 11:15). Ao passo que o Antigo Testamento (AT) utiliza pouco este termo, sempre o emprega referindo-se a uma peça do vestuário natural. Nunca é utilizado de maneira espiritual ligando-o a autoridade e submissão.

Portanto, a primeira coisa que podemos dizer acerca da “cobertura” é que há escassa evidencia Bíblica para construir-se uma doutrina. Não obstante, incontáveis cristãos repetem como papagaios à pergunta “quem-é-tua-cobertura?” e insistem nela como se fosse a prova do ácido que mede a autenticidade de uma igreja ou ministério.

Se a Bíblia silencia com respeito à idéia da “cobertura” o que é que se pretende dizer com a pergunta, “Quem é tua cobertura”? A maioria (se insistíssemos) formularia esta mesma pergunta em outras palavras: “A quem você presta contas?”.

Mas isso suscita outro ponto difícil. A Bíblia nunca remete a prestação de contas a seres humanos, mas exclusivamente a Deus! (Mat. 12:36; 18:23; Luc. 16:2; Rom. 3:19; 14:12; 1 Cor. 4:5; Heb. 4:13; 13:17; 1 Ped. 4:5).

Por conseguinte, a sadia resposta Bíblica à pergunta “a quem prestas contas?” É bem simples: “presto contas à mesma pessoa que você, a Deus”. Assim, pois, é estranho que tal resposta provoque tantos mal entendidos e falsas acusações.

Deste modo, embora o tom e o timbre do “prestar contas” difira apenas da “cobertura”, a cantilena é essencialmente a mesma, e sem dúvida não harmoniza com o inconfundível canto da Escritura.

Trazendo à Luz a Verdadeira Pergunta que se Esconde Atrás da Cobertura Ampliemos um pouco mais a pergunta. Que é que se pretende realmente dizer na pergunta acerca da “cobertura”? Permito-me destacar que a verdadeira pergunta é, “Quem te controla?”.

O (maléfico) ensino comum acerca da “cobertura” realmente se reduz a questões acerca de quem controla quem. De fato, a moderna igreja institucional está construída sobre este controle.

Consequentemente, a gente raras vezes reconhece que é isto que está na base da questão, pois se supõe que este ensino esteja bem ancorado nas Escrituras. São muitos os cristãos que crêem que a “cobertura” é apenas um mecanismo protetor.

Assim, pois, se examinarmos o ensino da “cobertura”, descobriremos que está baseado em um estilo de liderança do tipo cadeia de comando hierárquico. Neste estilo de liderança, os que estão em posições eclesiásticas mais altas exercem um domínio tenaz sobre os que estão debaixo deles. É absurdo que por meio deste controle de direção hierárquica de cima para baixo se afirme que os crentes estejam protegidos do erro.

O conceito é mais ou menos o seguinte: todos devem responder a alguém que está em uma posição eclesiástica mais elevada. Na grande variedade das igrejas evangélicas de pós guerra, isto se traduz em: os “leigos” devem prestar contas ao pastor. Que por sua vez deve prestar contas a uma pessoa que tem mais autoridade.

O pastor, tipicamente, presta contas à sede denominacional, a outra igreja (muitas vezes chamada de “igreja mãe”), ou a um obreiro cristão influente a quem considera ter um posto mais elevado na pirâmide eclesiástica.

De modo que o “leigo” está “coberto” pelo pastor, e este, por sua vez, está “coberto” pela denominação, a igreja mãe, ou o obreiro cristão. Na medida que cada um presta contas a uma autoridade eclesiástica mais elevada, cada um está protegido (“coberto”) por essa autoridade. Esta é a idéia.

Este padrão de “cobertura-responsabilidade em prestar contas” se estende a todas as relações espirituais da igreja. E cada relação é modelada artificialmente para que encaixe neste padrão. É vedada qualquer relação fora disto – especialmente dos “leigos” com respeito aos “líderes”.

Mas esta maneira de pensar gera as seguintes perguntas: Quem cobre a igreja mãe? Quem cobre a sede denominacional? Quem cobre o obreiro cristão?

Alguns oferecem a fácil resposta de que Deus é quem cobre estas autoridades “mais elevadas”.

Mas esta resposta enlatada demanda outra questão: O que impede que Deus seja diretamente a “cobertura” dos “leigos”, ou mesmo do pastor?

Sem dúvida, o problema real com o modelo “Deus-denominação-clero-leigos” vai bem além da lógica incoerente e danosa a que esta conduz. O problema maior é que este modelo viola o espírito do Novo Testamento, porque por trás da retórica piedosa de “prover da responsabilidade de prestar contas” e de “ter uma cobertura”, surge ameaçador um sistema de governo que carece de sustento bíblico e que é impulsionado por um espírito de controle.

***

O ensino da cobertura espiritual se encaixa exatamente neste sentido que Frank Viola explicou acima. Seria uma espécie de "proteção espiritual" de líderes para com seus "controlados" membros da igreja. Quem estiver debaixo da cobertura, supostamente estará protegido de ataques do maligno, de doenças, de crises financeiras, etc. Ao contrário, quem ousará ir contra sua própria “cobertura espiritual”, aquele que é “autoridade espiritual” sobre sua própria vida? Vejam só a gravidade do problema, é aí que começa a manipulação eclesiástica que (também) tem contribuído para desistências congregacionais de pessoas.

O referido Bispo erra em afirmar que o crente tem que estar debaixo de uma cobertura para se proteger, pois com isso ele nega a responsabilidade individual de cada um perante seus atos (Rm 14:12), e o pior, condiciona um poder de proteção espiritual para ele próprio, proteção esta que só Jesus pode nos dar. O Bispo afirma que "o agir de Jesus" no crente está condicionado ao mesmo estar debaixo da cobertura deles. Um absurdo! Onde está isso na Bíblia?

Se alguém pecar, não vai ser uma "cobertura" que vai livrar esta pessoa das consequências de seu pecado. E também não vai ser uma "cobertura eclesiástica" que vai livrar o Cristão da "contaminação do mundo". A santificação do Cristão agora depende de cobertura espiritual? Absolutamente não!

Este ensino escraviza e acomoda o Cristão a uma falsa proteção de líderes que, na verdade estão interessados em somente controlar e manipular os membros de suas mega-congregações. É Deus quem nos guarda e protege e não um líder eclesiástico com sua falsa doutrina de "cobertura de controle".

O referido Bispo, abusando de sua teologia distorcida, erra também na afirmação de que nas igrejas existem "autoridades delegadas" que seriam os líderes eclesiásticos. O mesmo cita Romanos 13 para averbar sua colocação de que o Cristão deve se submeter as "autoridades delegadas por Deus".

Claro que temos obrigação de nos submeter às autoridades, conforme esta passagem nos mostra, porém estas autoridades citadas em Romanos de maneira alguma são os líderes eclesiásticos!

Romanos 13, pelo contexto, é direcionado especificamente as “autoridades governamentais e jurídicas”. Não há evidência, nem margem exegética nenhuma para afirmar que “também” é direcionada a “autoridade eclesiástica”. Quem afirmar o contrário estará torcendo o texto sem seguir o contexto, desrespeitando assim as regras de exegese e hermenêutica!

Para se ter uma idéia desta tamanha distorção, Jesus foi bem categórico quando falou sobre este mesmo assunto:

"Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Mt 20:25-28 (Grifo meu).

Nesta passagem, a Bíblia nos narra quando a mulher de Zebedeu - mãe de Tiago e João - veio até Jesus com seus filhos para pedir que colocasse em seu reino os mesmos em posição de honra e autoridade ao lado direito e esquerdo de Cristo(vs 21). Porém, Jesus foi categórico com eles, como podemos constatar nos versos seguintes.

Será que Paulo em Romanos estaria se contradizendo com JESUS sobre o tema? Será que realmente existem crentes que são “autoridades superiores” perante outros crentes na igreja? Com certeza não! Quem se contradiz são aqueles que afirmam que Rm 13 é direcionado também para a autoridade eclesiástica. Não existe base bíblica neotestamentária para que um crente tenha autoridade espiritual sobre outro crente. Isso é invenção de líderes dominadores que querem manipular e controlar o rebanho da Igreja de Cristo.

A única “autoridade espiritual” que existe na igreja perante os crentes é JESUS. A Bíblia diz em Mt 28:18 “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. (grifo meu)

Jesus é o cabeça do corpo de Cristo, nós todos somos os membros. Nenhum membro do corpo pode exercer superioridade através de autoridade espiritual a outro membro, somente o cabeça (que é Cristo) é que controla todo o corpo. É assim na igreja. Jesus tem autoridade sobre toda a igreja. Todo crente que estiver em Cristo tem a mesma autoridade espiritual que é concedida através de Jesus (1Pe 2:9). O véu foi rasgado, todos nós temos acesso. A unção é a mesma, a autoridade é a mesma, o acesso ao Pai é igual para todos! (Veja 1 Co 12).

A igreja com certeza é uma instituição organizada que foi estabelecida por Cristo, pois sabemos que existem dons e ministérios necessários para a edificação e organização da congregação. Sabemos também que algumas funções têm como objetivo de liderar e coordenar a igreja. Se não fosse assim, teríamos uma verdadeira baderna, e o culto ao a Deus com decência e ordem, não seria possível. Porém, nenhum desses dons autentica o direito de ser “autoridade espiritual” sobre os demais crentes.

É importante colocar que não devemos confundir a “autoridade” de Romanos 13 com a “obediência e submissão” de Hebreus 13:17, vejamos:

Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros”. Hb 13:17 (grifo meu)

Analisando esta passagem:

Obedecei = deixar-se guiar / submeter-se

Submisso (vocábulo "submeter") = grego: hupotaso = sujeição voluntária / obediente / respeitoso / sujeito.

Repare agora na diferença etimológica comparando-se à palavra “autoridade” citada em Rm 13:

Autoridade = poder de mandar / domínio / poder público. (dicionário Aurélio).

Termo grego para autoridade: Exousia = deriva da palavra exestin, que significa uma ação possível e legítima que pode ser levada a cabo sem obstáculo.

Frank Viola comentou sobre esta questão também:

- A autoridade (exousia) relaciona-se com manifestação e comunicação de poder. Mais especificamente, a autoridade é o direito de realizar uma ação particular. A Escritura ensina que Deus é a fonte única de toda autoridade (Rom. 13.1), e esta autoridade foi conferida à Seu Filho (Mat. 28:18; João 3:30-36; 17:2).

Apenas Jesus Cristo tem autoridade. O Senhor Jesus disse claramente, “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”. Ao mesmo tempo, Deus delegou Sua autoridade aos homens e mulheres deste mundo para propósitos específicos.

Por exemplo, na ordem natural, Deus instituiu diversas esferas onde Sua autoridade deve ser exercida (Efésios 5:22-6:18; Col. 3:18-25). Estabeleceu certas “autoridades oficiais” com o propósito da preservação da ordem sob o sol. Aos oficiais governamentais, como reis, magistrados e juízes, foi dada esta autoridade (João 19:10, 11; Rom. 13:1 ss.; 1 Tim. 2:2; 1 Ped. 2:13-14).

A autoridade oficial é autoridade conferida a um oficio estático. Funciona independente das ações da pessoa que a ocupa. A autoridade oficial é autoridade posicional e fixa. Enquanto a pessoa ocupar o cargo, tem autoridade.

Quando alguém exerce as funções de autoridade, o recipiente chega a ser “uma autoridade” por seu próprio direito. É por esta razão que se exorta aos cristãos que se sujeitem aos líderes governamentais – não importando seu caráter (Rom. 13:1; 1 Ped. 2:13-19).

Nosso Senhor Jesus, assim como Paulo, mostraram espírito de sujeição quando compareceram ante a autoridade oficial (Mat. 26:63-64; Atos 23:2-5). De maneira similar, devemos sempre nos sujeitar a esta autoridade. A ausência de lei e o desprezo pela autoridade são sinais de uma natureza pecadora (2 Ped. 2:10; Judas 8). Ao mesmo tempo, a sujeição e a obediência são duas coisas bem diferentes, e é um erro fatal confundi-las.

Sujeição Versus Obediência.

Em que difere a sujeição da obediência? A sujeição é uma atitude. A obediência é uma ação. A sujeição é absoluta. A obediência é relativa. A sujeição é incondicional. A obediência é condicional. A sujeição é um assunto interior. A obediência é um assunto exterior.

Deus nos convoca a ter um espírito de humilde sujeição diante daqueles que Ele colocou em autoridade sobre nós na ordem natural. Contudo, não podemos obedecer-los se nos mandam fazer o que viola Sua vontade, porque a autoridade de Deus é maior que qualquer autoridade terrena.

Não obstante, você pode desobedecer enquanto se submete. Pode desobedecer a uma autoridade terrena mantendo um espírito de humilde sujeição. Pode desobedecer e ao mesmo tempo manter uma atitude de respeito e reverencia distinto do espírito de rebelião, injuria e subversão (1 Tim. 2:1-2; 2 Ped. 2:10; Judas 8).

A desobediência das parteiras hebréias (Ex. 1:17), os três jovens hebreus (Dn. 3:17-18), Daniel (Dn. 6:8-10), e os apóstolos (Atos 4:18-20; 5:27-29) exemplificam o principio de estar sujeito a uma autoridade oficial ao mesmo tempo em que desobedece quando esta se choca com a vontade de Deus.

Se Deus estabelece autoridade oficial para operar na ordem natural, ele não instituiu este tipo de autoridade na igreja. É por essa razão que os líderes eclesiásticos silenciam diante dos argumentos de Paulo na esfera da autoridade em Efésios 5-6 e Colossenses 3.

Deus dá autoridade (exousia) aos crentes para exercer certos direitos. Entre eles está a autoridade (exousia) de serem feitos filhos de Deus (João 1:12), possuir propriedades (Atos 5:4), decidir casar-se ou não (1 Cor. 7:37), decidir o que comer ou beber (1 Cor. 8:9), curar enfermidades (Mar. 3:15), expulsar demônios (Mat. 10:1; Mar. 6:7; Luc. 9:1; 10:19), edificar a igreja (2 Cor. 10:8; 13:10), receber bênçãos especiais associadas a certos ministérios (1 Cor. 9:4-18; 2 Tes. 3:8-9), ter autoridade sobre as nações e comer da árvore da vida no reino futuro (Ap. 2:26; 22:14).

Mas em nenhuma parte a Bíblia ensina que Deus deu autoridade (exousia) aos crentes sobre outros crentes!

Recordemos a palavra de nosso Senhor em Mateus 20:25-26 e Lucas 22:25-26 onde condena as formas de autoridade tipo exousia entre seus seguidores. Este fato deve ser motivo para uma séria reflexão.

Portanto, sugerir que os líderes na igreja devem exercer o mesmo tipo de autoridade que os dignitários representa logicamente um salto e uma excessiva generalização. Uma vez mais, o NT nunca vincula a exousia aos líderes da igreja, nem estabelece que alguns crentes tenham exousia sobre outros crentes.

Sem dúvida, o AT descreve os profetas, sacerdotes, reis e juízes, como autoridades oficiais. Isto se deve ao fato destes “ofícios” serem sombras da autoridade ministerial do próprio Jesus Cristo. Cristo é o verdadeiro Profeta, Sacerdote, Rei e Juiz. Mas no NT nunca encontramos qualquer passagem que descreva ou represente algum líder enquanto autoridade oficial. Isto inclui os guardiões locais, assim como aos obreiros de fora.

Para ser franco, a noção de que os cristãos têm autoridade sobre outros cristãos é um exemplo de exegese forçada e, como tal, é biblicamente insustentável. Quando os líderes da igreja exercem o mesmo tipo de autoridade que desempenham os oficiais governamentais, tornam-se usurpadores!

Certamente, a autoridade funciona na igreja, mas esta autoridade que funciona na ekklesia é notavelmente diferente da que se exerce na ordem natural. Isto faz sentido na medida em que a igreja não é uma organização humana, mas um organismo espiritual. A autoridade que opera na igreja não é oficial. É orgânica!

***

Nós devemos ter os nossos líderes e pastores de uma maneira respeitosa e submissa, no sentido de “deixar os mesmos nos guiar na Palavra e no ensino de Deus”. Devemos confiar com segurança que os mesmos são servos de Deus para cuidar, apascentar e ensinar a Igreja de Cristo e também para coordenar a igreja em sua forma funcional e organizacional. O Pastor merece honra, reconhecimento e respeito de todos da Igreja. Porém o líder também é humano, sujeito a erros e a pecados, bem como a exortação e repreensão.

Mas, jamais devemos ter nossos pastores ou líderes como se fossem superiores aos demais irmãos da igreja, como se os mesmos possuíssem “unção diferenciada” ou “poderes especiais”. Somos co-herdeiros em Cristo, o véu foi rasgado e temos acesso à vida através de Jesus, bem como a unção procede diretamente de Deus para todo o Corpo de Cristo. Temos todos a mesma unção e os mesmos direitos, não precisamos de nenhum “homem mediador” para ter acesso ao pai. O único mediador entre Deus e os homens é JESUS CRISTO!

Após refletir nesse artigo, chego a seguinte conclusão preliminar: porque as pessoas não querem mais ir à igreja? Um dos motivos é por causa dos líderes manipuladores que pregam distorções Bíblicas em benefício próprio.

No próximo artigo, darei continuidade sobre este assunto.

Soli Deo Gloria!

Ruy Marinho
Blog Bereianos
 
Bibliografia:
- Bíblia de estudo de Genebra
- Quem é a tua cobertura? - Frank Viola
- O Novo comentário da Bíblia – F.Davidson
- Romanos, Introdução e Comentário - F. F. Bruce
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