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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Primícias e Ultimícias

Para minha surpresa, de acordo com as estatísticas mais recentes, a maior parte das pessoas que chegam a este blog por meio do mecanismo de busca Google está em busca de estudos e informações a respeito do dízimo. Nos meus artigos anteriores a respeito do tema, procurei desconstruir a prática medieval da Igreja institucional que cobra o dízimo malaquiano de seus fieis, na forma de um imposto religioso embasado na má interpretação de Malaquias 3:10.

Se você me acompanhou até aqui, já sabe que o que você semea no Reino é algo entre você e Deus. Já sabe que o quanto você dá e quando dá não é da conta do pastor e de mais ninguém. Já entende que o dízimo não pode ser usado para oprimir o pobre, mas que cada um é livre para dar de acordo à sua prosperidade e desejo.

Em meus artigos anteriores, procurei desconstruir o tabu malaquiano. Entretanto, toda desconstrução requer uma construção. Imagino que alguns que não têm o costume de contribuir financeiramente para o Reino encontraram em meus textos uma “justificativa teológica e histórica” para sua avareza. Por isso, faleremos agora de nossa responsabilidade financeira pessoal no tocante ao Reino de Deus.

Muitos pensam que dão somente para ajudar o próximo, mas esta é uma visão limitada da contribuição financeira. Quando semeamos no Corpo de Cristo, estamos sujeitando nossas finanças ao senhorio do Senhor Jesus, cancelando todo o poder desta potestade chamada Mamon em nossas vidas. Assim, não dou somente para ajudar o meu irmão, mas também a mim mesmo. O princípio de que Deus nos abençoa quando o honramos com nossas finanças deve ser ensinado e praticado na Igreja.

Entretanto, se não nos disciplinarmos na área financeira, voltaremos à prática católica de dar esmolas. A idéia de que “100% do que tenho pertence ao Senhor, e não somente os míseros 10%” (como ouço muito entre aqueles que abominam o dízimo da Igreja institucional) é correta, mas por si só muitas vezes não é prática na vida de muitos, a não ser que tenhamos um chamado “franciscano” para vendermos tudo o que temos e doar aos pobres.

Se você consegue semear generosamente no Reino de Deus, de acordo à sua prosperidade, sem estipular uma porcentagem mensal em seu orçamento, parabéns. Se o nível de sua generosidade vai muito além do dízimo, de forma natural, sem que para isso você tenha que “religiosamente” separar suas primícias para o Senhor, que Deus te abençoe. Mas muitas pessoas, ao não serem práticas nesta questão de finanças, acabam vivendo de forma egoísta, iguais aos filhos deste mundo.

Se você é como muitos que nunca conseguem guardar dinheiro (e ainda por cima faz contas no crediário), é muito pouco provável que terá algo para semear na obra de Deus além de algumas migalhas que lhe sobrem (ao invés de primícias, semeará no Reino suas ULTIMÍCIAS). E aí, saímos do extremo legalista do dízimo malaquiano para o da avareza, que de acordo com a Bíblia é equivalente ao pecado da idolatria (Col 3:5).1

Muitos já não precisam do dízimo. No entanto, tais não precisam demonizá-lo.  Para muitos, semear na obra de Deus será algo impossível a não ser que esforcem para  destinar uma parcela fixa à obra de Deus em seu orçamento. E neste ponto, 10% é uma meta tangível e pode ser útil àquele que deseja sempre ter para dar ao necessitado, na medida do necessário. Nestes termos, penso que o dízimo pode ser usado como um alvo pessoal – voluntariamente, sem imposições do pastor ou fiscalização da tesoureira –  para adorar a Deus com nossas finanças. Desta maneira, o dízimo deixa de ser um imposto religioso para tornar-se uma simples ferramenta de disciplina pessoal.

Disciplina financeira é tão importante quanto outras disciplinas espirituais com as quais já estamos acostumados, que igualmente não são obrigatórias, mas requerem dedicação: orar, jejuar, ler as Sagradas Escrituras, testemunhar (evangelizar), servir ao próximo com seu tempo, talentos e bens, etc. Absolutamente ninguém na Nova Aliança é obrigado a orar tantas vezes ao dia ou jejuar tantas vezes na semana ou ler tantos capítulos da Bíblia em um dia, caso contrário estará vivendo e pregando um Evangelho legalista. Entretanto, espera-se que um cristão maduro espiritualmente faça tais coisas como fruto natural de seu caminhar com Deus. O mesmo se aplica às nossas finanças.

Muitos deixam de ofertar na Igreja como poderiam, não porque não têm para dar, mas porque infelizmente são indisciplinados (na melhor das hipóteses) ou egoístas (na pior delas) quando o assunto é finanças. Como consequencia, o povo não adquiri uma consciência de compromisso financeiro com o Reino, desonra a Deus com suas finanças e deixa de ser abençoado financeiramente.

Assim, penso que o dízimo não pode ser usado como meio de opressão, coação e manipulação como fazem os “malaquianos”. Mas pode ser útil, aos que assim preferirem, como um referencial mais concreto de “primícias” no estabelecimento de sua meta pessoal na área das finanças.

Ofertar na Casa de Deus é como perder peso. Sabemos que é necessário fazê-lo (se quisermos viver uma vida melhor) e os outros ao nosso redor também. Entretanto, este é um assunto exclusivamente pessoal. Ninguém tem o direito de nos discriminar ou obrigar-nos a fazer nada – o que não nos exime da responsabilidade de estabelecermos metas pessoais e nos disciplinar para alcançá-las.

Dízimo: Parte 1
Dízimo: Parte 2

© Pão & Vinho

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